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O desafio do trabalho integrado pela comunicação pública

Veículos de comunicação da UFG buscam afinar-se pelo interesse público

Texto: Silvânia Lima

Foto: Ana Fortunato

Dialogar com os diversos públicos afetos à Universidade Federal de Goiás (UFG), com foco no interesse público. Esse é o grande desafio dos veículos de comunicação da UFG na busca do exercício da comunicação pública em seus diversos canais. Esse enfoque norteou as discussões em torno do tema “Veículos de Comunicação da UFG” na manhã desta quarta-feira, 21, durante o sexto Encontro Temático da Política de Comunicação da UFG, realizado na Faculdade de Informação e Comunicação (FIC). A mesa, coordenado pela diretora da Rádio Universitária, Márcia Boaratti, teve como convidados os professores da FIC Magno Medeiros (diretor) e Angelita Lima, e o Diretor de Comunicação Institucional da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Marcelo Costa.

Magno Medeiros pontuou as premissas da comunicação pública: interesse público, canais de acesso, compartilhamento. “O desafio é passar do paradigma informativo técnico para o paradigma da interatividade, da comunicação em rede”, definiu. Comunicação tem a ver com circularidade e a comunicação efetivamente pública, de interesse público, tem a ver com as demandas coletivas.  Tem a ver com o impacto que a informação efetivamente tenha do ponto de vista político, econômico, social, cultural. 

Segundo ele, analisando a comunicação na UFG, mesmos com recursos limitados, em termos técnicos a instituição está bem, mas tem que avançar mais em termos estratégicos. Não é só produzir notícia, é preciso saber se efetivamente estamos contemplando os públicos.  Como o técnico, o estudante, o professor vai falar? É preciso criar canais à participação do conjunto da comunidade, abrir mais as portas para uma dinâmica de maior perspectiva de troca, do compartilhamento. Devemos nos perguntar até que ponto podemos avançar para uma comunicação realmente pública?

Sobre os temas e conteúdos, as abordagens devem referir-se à vida cotidiana, dentro de uma linguagem acessível. Conteúdos frios e distantes, com poucas fontes (entrevistados), não mexem, não polemizam e são de baixo impacto. Para ele “a UFG está preocupada com essa questão, prova disso é este evento, oportuno, com viés participativo, demonstrando que está a fim de qualificar esse processo”.

Sobre a iminente criação de um Centro de Comunicação (Cecom) na UFG, Magno Medeiros diz que uma estrutura unificada irá ajudar muito o trabalho integrado, de profissionais, equipes, compartilhando equipamentos e espaços. “Será muito mais efetivo operacionalizar os veículos de maneira sinergética e, ainda, agregar outros agentes importantes que também fazem parte do processo, como a Ouvidoria, o Cegraf, o Cidarq, o Cercomp”, disse.

Segundo ele, urge a consolidação desse processo. E, propõe ainda, a comunicação em rede – processo de comunicação em que todos comunicam, não só o polo produtor, mas também o consumidor, o designer, o relações públicas, a imprensa, a publicidade e órgãos afins. “A perspectiva é integrar as pessoas, dando a oportunidade de falar, de produzir conteúdos e compartilhamento técnico, de espaços. Temos uma pauta integrada. Temos que avançar agora, nessa perspectiva da comunicação pública e dentro da possibilidade da comunicação em rede, compartilhando equipamentos, espaços e competências”, sugere.

O professor lança a ideia de criação de setores estratégicos para avançar na comunicação integrada na UFG, como o Planejamento estratégico de imagem, para gerenciar a comunicação programada, as pautas comuns, compartilhadas; Comunicação estratégica efetiva, para tratar de conflitos oriundos da comunicação informal, extremamente forte no ambiente institucional, como especulações e boatos; e o Sistema de objetivos e avaliação, a ser gerido por grupos de trabalho ou comissões com o objetivo de verificar estratégicas e ações.  Sugere ainda a criação do Conselho de integração com os diversos veículos de comunicação da UFG e órgãos afins, e do Conselho Curador, com a participação da comunidade externa.

 UEG avança com comunicação integrada e humanizada

A UEG, que passa pelo mesmo processo de implantação de sua política de comunicação, trouxe sua experiência para o debate. Marcelo Costa fez uma explanação sobre a comunicação na Universidade e as estratégias bem sucedidas adotadas nos últimos anos. Na oportunidade, ressaltou a importância do diálogo entre ambas as instituições.

No caso da UEG, o desafio maior é manter a qualidade dos serviços de comunicação em seus 41 câmpus espalhados em 39 municípios goianos. “Internamente, precisamos vencer a distância geográfica”, disse o coordenador de comunicação, ao apresentar os produtos e serviços de comunicação da UEG, novos e recentemente reformulados, com foco mais na comunidade universitária do que na gestão. Como exemplo, citou a revista Viva UEG, o jornal e o portal, em que predominam a abordagem de temas mais relacionados ao cotidiano das pessoas, com textos breves e objetivos.

As ações de fortalecimento da identidade institucional passam estrategicamente, de acordo com Marcelo Costa, pelo trabalho de uma “assessoria crítica, que se norteia pela comunicação integrada e por uma comunicação humanizada. Optamos pelo relacionamento sujeito a sujeito, nossos jornalistas vão até os câmpus, à comunidade. Isso é positivo para nós e para a forma como a universidade nos vê. Buscamos o envolvimento emocional com a narrativa, substituir a divulgação pela relação. E, também o amplo envolvimento, pois boa parte das ações que possuem interface com outros setores é feita de forma integrada” descreveu Marcelo Costa. Segundo ele, a ideia é criar uma rede de profissionais entre os câmpus.

Sobre outras ações da política de comunicação da UEG, ressaltou ainda a importância das normas regulamentadoras, presentes em resoluções e instruções normativas. “Isso facilita o trabalho, nos ajuda bastante. A colação de grau unificada é um exemplo”, disse.

A profissionalização da área de comunicação, com o suporte de normas e do planejamento tem permitido, segundo Marcelo Costa, trabalhar melhor o público formador de opinião, fazer valer o critério de noticiabilidade, a criação de editorias e a produção de conteúdos segmentados por tipo de público nos diversos meios de comunicação da instituição.

O complexo de comunicação e a formação dos estudantes

Por que termos um parque de comunicação próprio? O que queremos com esses veículos na universidade? Com essas indagações, a professora Angelita Lima, coordenadora do curso de Jornalismo, deu início à reflexão sobre a importância dos veículos de comunicação da UFG na formação acadêmica. Para ela, mais do que um campo de estágio, a presença dos estudantes nesses veículos pode contribuir na construção de práticas de comunicação mais democráticas.

Angelita

A coordenadora de Jornalismo anunciou o novo estágio obrigatório do curso cujo campo prioritário será a UFG

Angelita Lima considera que este é um momento importante para o Jornalismo na UFG. “A realização do Seminário de Comunicação Pública e Cidadania, em 2015, e seus desdobramentos, como esses encontros temáticos, é uma inciativa inteligente e corajosa. Inteligente porque estamos ouvindo outras pessoas e corajoso porque estamos conseguindo unir os veículos de comunicação em um trabalhando conjunto pela área na UFG. É preciso considerar, realmente, a grandeza que representa o conjunto de veículos de comunicação na universidade: Rádio Universitária, TV UFG, jornal UFG, revistas, plataformas web, Cegraf, Cidarq, Cercomp, Editora UFG, Ouvidoria. Temos um parque e, muitas vezes, não percebemos esse complexo produtivo. E, pela primeira vez, docentes e técnicos se debruçam sobre esse complexo de comunicação para compreendê-lo e melhora-lo”, disse.

Ela citou que mais do que fluxo de informação, os veículos cumprem a função de laboratório, de campo de estágio, de pesquisa e extensão, de criação de identidade comunicacional, de local de trabalho etc. “A prática do jornalismo só o é se publicamos. Para os estudantes de jornalismo os veículos tem cumprido um papel importantíssimo na sua formação e, sobretudo, no engajamento profissional. Rádio, TV e jornal têm ampliado oportunidades de experiência com o recebimento de estagiários”, ressaltou.

A coordenadora informa que em 2018, essa relação se tornará ainda mais consistente com a definição do campo de estágio obrigatório – não remunerado – para o curso de Jornalismo, de acordo com o novo PPC. “E o campo de estágio prioritário será a UFG, o que será de grande valia para a composição desse complexo, inclusive numa perspectiva de convergência midiática”, afirma. Com isso, o professor responsável poderá contabilizar sua carga horária, o que não ocorre hoje.

A fim de facilitar a transição para o novo currículo, foi criada a disciplina Laboratório de Produção Jornalística Integrada, que contempla as áreas de produção de texto impresso, radiojornaslimo, fotojornalismo, telejornalismo, webjornalismo e planejamento gráfico. Angelita Lima explica que toda a produção das oito disciplinas práticas de jornalismo será aproveitada na disciplina. “São cerca de 100 reportagens. O objetivo desse grupo é receber esse material, trabalha-lo e fazer circular, dar visibilidade à produção dos colegas nos diversos meios de comunicação” explica a professora. A expectativa é que a nova prática desmonte a fragmentação de áreas dentro do curso e promova novas formas de vinculo com a sociedade, especialmente as comunidades locais. “Esse será o trunfo da audiência e também da adesão a um projeto de comunicação democrático”, vislumbra.

Outra importante transição que precisa ser feita pelos futuros profissionais, de acordo com Angelita Lima, diz respeito ao tratamento dado às fontes de informação e ao gênero jornalismo hegemônico na produção das notícias e reportagens. Verificamos a presença marcante do jornalismo declaratório, da pauta imediata e a pouca presença da reportagem de profundidade, investigativa, opiniões, crônicas. “Isso é possível com a alteração na relação com as fontes, no exercício de produção de outros gêneros jornalísticos”, afirma Angelita Lima, ao considerar também que no Brasil e na América Latina há bons blogs e que o jornalismo especializado tem sido fonte de ampliação da formação.

“O desafio é utilizar todo o nosso potencial de comunicação, bem como nossa energia, na construção de uma comunicação pública, democrática, com a nossa cara e o nosso jeito. E, precisamos ter adesão a esse projeto”, conclui.

Controle social na comunicação

Durante o debate, o diretor da TV UFG, Michael Valim, falou sobre a comunicação institucional, o desafio da integração, e a relação disso com a ideia de pertencimento. Ele lembrou que rádio e TV são concessões educativas e culturais, ou seja, têm que prestar um serviço público, e sugeriu que seja construído um conselho curador de comunicação que garanta a participação e o controle social desses veículos.

Michael

O diretor da TV UFG, Michael Valim, propõe mais integração com a sociedade contra a ameaça ao interesse púbico nos meios de comunicação 

“É preciso que haja, também, um conselho editorial que defina quais as pautas, quem vai ter voz e quem vai definir isso. Precisamos construir autonomia. Precisamos construir uma rede entre os órgãos internos e também com outras instituições. A UFG precisa despertar para a importância estratégia dos veículos que ela tem”, enfatizou. Sobre o momento atual de ameaça às concessões públicas de comunicação, Michael Valim falou da urgência de construir ações integradas, planejadas e de pertencimento. “Temos que conquistar os corações e as mentes das pessoas, nos inventarmos para isso”, sugeriu.

Nesse sentido, Angelita Lima ressaltou a importância da publicidade na comunicação pública. Ela alertou para a gravidade do desmonte da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), que está ocorrendo no governo Temer. ”A Constituição Federal prevê representações dos sistemas público, privado e governamental, a composição da EBC. E, agora, de acordo com a Medida Provisória 744, teremos só o privado e o governamental” informou.

O debate foi encerrado com uma defesa da versão impressa do Jornal UFG. Magno Medeiros afirma que a versão impressa sobreviverá por muitas décadas: “é uma questão de afetividade, sentir, apreciar. O mais importante é que paralelamente haja a versão digital”, disse. Angelita Lima alerta para os interesses daqueles que argumentam contra a versão impressa: Qual é o real propósito? Ela lembra que jornal é documento e que, historicamente, a criação de novos meios de comunicação não eliminam os demais, que passam a coexistir. 

Fonte: Ascom UFG

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